Achei esse texto bastante pertinente com a nossa realidade.
Alguns podem achar que este texto nada tem a ver com o assunto do blog...mas eu realmente me incomodo com essa realidade.
A esta altura você já sabe onde vai degustar as delícias do jantar
ou almoço de Natal. E mesmo se estiver longe da familia, vai se dar ao
luxo de escolher uma ceia num restaurante ou de dar um pulo no
supermercado para comprar os tradicionais peru, tender, farofa e as
frutas cristalizadas. Vendo a mesa farta, ladeada pela árvore ricamente
decorada, as velas acesas a perfumar a casa, e os presentes à espera
dos sorrisos de satisfação..terá a impressão de que em todos os lares
cristãos do planeta, há alimento de sobra para o corpo e o espírito.
É que a tal magia do Natal nos anestesia para a dura realidade dos
grotões, onde a solidariedade é sazonal e a estupidez reduz o ser
humano a objeto.
O número de famintos no planeta está em torno de 1 bilhão, de acordo
com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a
Agricultura (FAO). Isso significa que um em cada seis seres humanos
passa fome. Soco no estômago! É gente que, em sua maioria, habita a
África, Ásia e a América Latina, já que no hemisfério de cima, o drama
é o oposto. De um lado, mesas abarrotadas e pessoas superalimentadas;
de outro, multidões famintas a se baterem por escassas migalhas.
A própria FAO atribuiu o acentuado aumento no número de famélicos a uma
combinação da crise financeira internacional e da persistente elevação
dos preços dos alimentos. Situações em que nós, pobres mortais de
barriga cheia, figuramos como meros telespectadores.
É como bem assevera o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo P. Scherer:
“ A solução para o problema da fome está menos na roça e nas mãos
calejadas dos agricultores do que nos gabinetes e fóruns das decisões
políticas, econômicas, financeiras e comerciais. A fome será superada
mais pela ponta da caneta do que pelo cabo da enxada”.
Porém, um terceiro fator nos chama à responsablidade imediata: o desperdício nosso de cada dia.
Dados deste mesmo relatório da FAO revelam que um terço dos alimentos
produzidos no mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas anuais, se perde
ou é desperdiçado. No Brasil, este índice chega a 40%, algo em torno de
39 milhões de quilos diários de comida.
Os consumidores ricos jogam fora 222 milhões de toneladas de frutas e
hortaliças, volume equivalente à produção de alimentos na África. Cada
um de nós manda para o lixo 115 quilos de comida por ano.
O descaso começa lá no campo, com o acondicionamento inadequado;
segue no transporte, quando chegam nas feiras e mercados; e, por fim,
continua em nossa geladeira. Quantas vezes não compramos além do que
iríamos consumir?
Pensar em toda a cadeia produtiva do alimento, desde os adubos
utilizados, o suor do trabalhador rural até o combustível gasto do
campo à mesa, ajuda a despertar a consciência? E refletir sobre as
montanhas de lixo que geramos com os restos?
Diante das perspectivas de que os preços dos alimentos continuarão a
subir e a produção precisará crescer 70% até 2050 para alimentar os 9,2
bilhoes de pessoas que estarão no mundo nesta época, teremos que
quebrar o paradigma comum no Brasil, com relação à cultura do excesso,
da abundância, do “é melhor sobrar do que faltar”.
A esta altura estamos tão atarantados com a correria de fim de ano, os
balanços das finanças, a ansiedade pelas férias, os projetos para 2012,
que é mais do que merecido o banquete natalino.
Em atenção à data peculiar, provemos também do alimento da alma: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome ”
Mas quando a farra gastronômica passar, fiquemos com o exemplo de um
outro ser iluminado, a quem reverencio. De acordo com os ensinamentos
de Buda, “ A quantidade de alimentos necessária para cada ser humano é
aquela que cabe na concavidade de suas mãos unidas”.
Estou longe de ser uma pessoa correta. Toda semana jogo "quilos" de comida no lixo que se estragou na minha geladeira. Mas acho que começar a pensar nisso já é uma mudança. Quem sabe esse ano eu consiga mudar alguns hábitos?